quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Pindoca

Pindoca

Você chega em casa após um dia estressante no trabalho. Abre a porta e tropeça nas correspondências. A maioria, claro, contas. Mas uma era sem remetente. Apenas estava inscrito “Para o Sr. Pindoca”. Pindoca? Você tenta resgatar na sua memória se já foi chamado de Pindoca. Não, nunca. Nem nunca conheceu algum Pindoca na sua vida. O máximo foi o palhaço Pipoca que, na festa de aniversário do seu filho, urinou num copinho e saiu oferecendo para o povo dizendo que era guaraná.

Você bate na porta do vizinho. Abre um sujeito de mais ou menos 2,03m de altura e o dobro de largura com cara de quem nunca gostou de ser chamado de Pindoca. Definitivamente, não era ele o Pindoca. Você vai até a portaria e pergunta pro porteiro quem que deixou a carta. Ele diz que não sabe, que chegou agora e que nem adianta perguntar para o outro porque, simplesmente, não há porteiro de dia.

Você sai batendo em todos apartamentos chamando pelo Pindoca. Mas que burro você é! Quem que com um apelido desses iria se identificar?

Você decide abrir a correspondência. Que o Pindoca o desculpasse. Está escrito:
”Caro Pindoca,

Adorei sua última carta e, pela sua descrição, me apaixonei perdidamente por você. E como você me pediu vou me descrever: sou loira, olhos azuis, pele clara, corpo parecido com o da Ana Paula Arósio. E tenho uma tatuagem num lugar que eu sei que você vai adorar.

Espero-te ansiosamente. Com amor,

Tutuia”

Você não tem a menor dúvida: quer ser o Pindoca!

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Sou bi

Sou bi, amor

Nada deixava Lílian mais nervosa quando Fernando dizia:

- Amor, hoje vou jogar futebol com os amigos do escritório.

Aliás, havia algo sim, que a deixava mais furiosa: os campeonatos. Quando era semana de campeonato, era um inferno. Ele só falava sobre o campeonato ou então sobre o time ou até mesmo do troféu que iriam ganhar. Sempre era “um troféu mais brilhante do que o outro”, dizia Fernando. Lílian não agüentava. Dizem os vizinhos, que em época de campeonato, Lílian aumentava as suas idas à farmácia. Os maldosos diziam que era por causa do Túlio, o garanhão do bairro. Mas fontes seguras me confirmaram que era para comprar alguns calmantes.

Vale frisar que Lílian e Fernando eram um casal feliz, em termos conjugais atuais. Tinham duas filhas lindas. Uma já na pré-adolescência e a outra ainda nem sabia o que era uma Barbie direito. Mas enfim, o que vale a pena dizer é que os dois já estavam casados há quase 14 anos. 14 anos de puro companheirismo, fidelidade e paz. Exceto em época de campeonato, claro.

Mas acontece que já havia um tempão que Fernando não tinha campeonatos. Ok, os campeonatos não eram muito freqüentes, mas, pelo menos, havia um a cada 2 meses. E já havia 4 meses sem!!!!! Lílian estava desconfiada, mas contente ao mesmo tempo.

Fernando continuava tendo jogos, mas já não voltava todo suado. E estava indo de carro agora. “Estranho”, pensava Lílian, “Ele sempre vai a pé. Diz que a pé é melhor pra já chegar lá aquecido e tal. Fora que a quadra é a 3 quarteirões daqui. Não faz sentido gastar gasolina pra andar tão pouco.” Sempre que perguntado do por quê de resolver ir de carro agora, Fernando desconversava, dizia que aproveitava pra lavar o carro com o flanelinha que ficava lá tomando conta. De fato, o carro sempre estava bem lavado.

Certo dia, ou melhor, certa noite, após Fernando ter saído para jogar, Lílian, ao arrumar a cama para dormir, vê o uniforme do time de Fernando embaixo da cama. Essa foi a gota d’água para ela! Sim, ele estava traindo-a! Claro! Ela já não era mais uma mocinha. E ele tinha todo aquele jeito de jovem. Era quarentão, assim como ela, mas estava sempre em forma. E ela acabada! Por isso ta saindo com o carro e ele ta sempre lavado! Que flanelinha o quê! Ele levava uma qualquerzinha de 20 aninhos para um motel barato, onde após ficar 2h, lavavam o carro!

-Cretino! Ele me paga! – gritava Lílian com os olhos vermelhos – Quando ele chegar ele vai ver! Ah se vai!

E ele chega. Todo sorridente. Mas estranha ao ver a mulher segurando a vassoura na mão. Ele até iria fazer a brincadeira de perguntar se ela iria varrer ou voar, mas desistiu quando viu que quem iria voar era ele se fizesse esta pergunta.

-Amor, tenho uma coisa muito importante pra te falar – diz ele evitando olhar nos olhos ferventes dela – sou bi.

Lílian já estava preparada para xingar até a 5ª geração da família dele até sua ficha cair.

-Você é o quê?! – espanta-se a mulher.

-Bi! Não é maravilhoso? – diz ele todo alegre.

Não! Lílian até poderia entender ser trocada por uma mocinha de 20 anos. Aliás, entender vírgula, porque ela não perdoaria tal ato de infidelidade. Mesmo sabendo que ela bem que dava umas olhadas para o Túlio. Mas isso não importa! Ser trocada por uma mulher vá lá! É até digno de ser contado para as amigas, com o grau certo de dramaticidade. Mas ser trocada por um homem? Não isso já é demais. Mas calma, ser bi, não significa que ele tenha saído só com homens. Pode ter sido com as mocinhas de 20 também! Mas pensando bem, não. Se ele é bi, ele era casado com ela e deveria ter um namorado. Mesmo assim! Lílian ficou em estado de choque.

-Nossa. Foi demais hoje – continuava ele empolgado.

-Pára! Pára! Não quero ouvir detalhes – esbravejou Lílian – Como você pode fazer isso Fernando? 14 anos! 14 anos, Fernando!

Agora era Fernando que não entendia. Lílian continuava:

-Você deveria ter vergonha Fernando! O que suas filhas dirão? O que eu direi para as minhas amigas?

- Ué, podem dizer que o Fernandão aqui é o melhor técnico de society. Afinal, não é para muitos ganhar 2 títulos como jogador e como treinador do time.

Lílian já ia voltar a xingar a 5ª geração dele, mas fez uma pausa.

- Título? Espera aí! Do que você está falando?

- Ué, do bicampeonato da turma!

- Bicampeonato, que bicampeonato?

- De futebol, amor. Do que mais poderia ser?

- Mas você não falou que tinha campeonato essa semana...

- Pois é. Sei que você odeia quando tem campeonato. Então nem toquei no assunto.

Lílian ficou pasma. Mas lembrou-se do uniforme debaixo da cama:

- E o uniforme, hein? Por que você não o levou?

- Ué, sou técnico agora. Preciso de uniforme não.

- Como assim técnico? Você sempre gostou de jogar.

- Gosto, mas eu já não sou mais menino né? Aliás, vou deitar.

E foi pra cama dormir. Lílian até agora não se recuperava do baque. Foi deitar também.

- Você tem sorte de não ter me batido – sussurrou Fernando.

- Por que?

- Poderia te denunciar por preconceito sexual – respondeu Fernando, que se virou e dormiu.

Lilian arregalou os olhos e pensou: “Amanhã eu tenho que ir à farmácia!”. Resta agora saber se era para comprar mais calmantes ou era pra ver o Túlio.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Não, não e não!

“Mais de 400 alunos já levaram multa por falar palavrão na escola. A punição incomum de cobrar R$ 0,10 a cada palavra feia emitida foi implantada pelo Colégio Evangélico Jaraguá, que fica em Jaraguá do Sul (SC) (a 220 Km de Florianópolis). A prática surgiu a partir da irritação de um professor de alemão com o linguajar dos alunos, e atingiu desde a 5ª série do ensino fundamental até o último ano do ensino médio.

O palavrão só é registrado quando está em contexto de ofensa ou constrangimento. Um inocente “bunda”, por exemplo, não conta. Entre os alunos, há até aqueles que acabam dedurando o colega boca-suja. Mas o que vale mesmo é a multa aplicada pelo professor e pela bibliotecária. A cada palavrão vai o aviso no caderninho.
Com o dinheiro arrecadado, foram comprados livros e materiais ilustrativos para aulas. “A escola é luterana e tem princípios cristãos. Devem existir punições, como a repreensão e a advertência. Como a multa tem esse tempero, os alunos ficam envolvidos, uns cobrando os outros. Ela está tendo sucesso. As espontaneidades que saltavam diminuíram muito”, afirma o diretor do colégio Leopoldo Fenner.
A medida já tem cerca de dois anos desde o início de sua aplicação. E, em todo o período de vigência, mais de R$ 40 foram arrecadados, segundo Fenner. No entanto, a implantação foi controversa.
“Nem todos os professores quiseram aderir ao processo de cobrança de multa. Nas reuniões pedagógicas, ficou acertado que outras punições podem servir para a cobrança da linguagem adequada. O professor de alemão e a bibliotecária é que levaram adiante a idéia”, conta.“.

Retirado do site Globo.com 07/08/2007

Espirrou? Vai ter que pagar!

- Atchim! – um espirro espalha-se no silêncio sepulcral da classe.

- Quem foi que espirrou?! – vociferou o professor – Hein, hein? Foi você Rodrigo? Não? Hum... então foi você, né Lucas?

- Mas, fessor... eu to gripado... – justificou-se o garoto

- Quero nem saber! 10 centavos! Agora! – bradou o professor

Lucas caminhou solenemente, cabisbaixo, com uma moedinha em uma das mãos até o cofrinho da turma. Despejou o dinheiro e voltou para o seu lugar acompanhado dos olhares de todos da sala. Natália levou as mãos à boca e logo foi repreendida:

- Acha engraçado, senhora Natália? – indagou o demoníaco professor

- Não, fessor! Tava só coçando a bochecha – respondeu em tom aflito a pequena menina

- Estava bocejando então que eu sei! 5 centavos!

A pobre levantou e fez a mesma coisa que o Lucas. Após depositar a moedinha, assentou-se.

A aula transcorreu sem interrompimentos, até o momento em que o André soltou um sonoro, claríssimo:

- M***!

A sala inteira se virou para o André. Ele lá, imóvel, mãos na cabeça, olhos esbugalhados, pálido. Parecia ter visto um fantasma. Mas ele esperava ver algo bem pior. Ia ver o diabo! Paralisou-se com o medo de se deparar com aquele olhar cortante, perfurador, feito ferrão de marimbondo do severo professor. Este permaneceu impávido, calmo, respiração leve e constante. O olhar não era aquele de bunda de vespa. Era olhar calmo, sereno, raro de ser encontrado naqueles olhos. Beirava a perplexidade.

Ficou aquele silêncio do silêncio. Aquele ensurdecedor. Talvez mais forte do que aquele barulho da falta de barulho, era a tensão, a apreensão da turma, especialmente a do André.

De repente, explodiu o sinal dando fim a aula e muito susto para todos. O professor ainda encarava o André de forma leve, mas não desgrudava o olho. Parecia estar em transe. Mais assustado que o garoto. Perplexo. Caiu em si, juntou seus livros e saiu da sala. Ninguém entendeu! Como assim ele não repreendeu o André? Ele gritou “m***”! Do nada...

Um grupinho de alunos, liderado pelo Lucas e pela Natália, foi reclamar (dedurar) do palavrão soltado pelo André no meio da aula. O diretor escutou as reclamações e decidiu chamar o garoto e o professor para terem uma conversinha na sua sala a respeito. Os dois obedeceram. O manda-chuva do colégio indagou ao estudante o por quê de ter berrado aquela expressão chula na aula do severíssimo educador:

- O Brasil perdeu a medalha de ouro no Pan, diretor!

- P*** m****! Sério? – assustou-se o diretor. O garoto e o professor assustaram-se mais

Os três se entreolharam por algum tempo. O professor deu sua palavra passado este momento mudo:

- Minha reação foi quase igual a sua, senhor diretor. Fiquei perplexo com isso. Como é que perde aquele ouro? Aquelas p**** cubanas! Não é possível! Elas não prestam pra nada! Nem pra rodar bolsinha em avenida central!

- É f***, viu – desabafou o diretor

E os três ficaram discutindo sobre a derrota brasileira no Pan. Enquanto que o Lucas estava depositando mais 10 centavos no cofrinho por ter espirrado novamente.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Teatrinho

Breve ato (quase) romântico

Cenário: saguão do aeroporto

(João Vítor e Helena entram em cena)

João Vítor vai caminhando à sala de desembarque com duas malas na mão quando encontra-se com Helena que, abrindo os braços, diz:

- Amor! Boa viagem!

Os dois se abraçam e se beijam.

Neste momento, urge uma voz feminina do fundo do saguão:

(Entra em cena Brisa)

- João?! – Brisa anda em direção a João com os braços na cintura e com expressão perplexa.

João assusta. Helena olha para João e depois olha para Brisa e esta olha para João e encara Helena. João abre a boca, mas Helena que diz primeiro:

- Quem é essazinha, João? – Helena aponta para Brisa e fica olhando com o rabo do olho para João.

João novamente abre a boca, mas quem fala primeiro é Brisa, com sorriso irônico estampado no rosto, fitando Helena:

- Essazinha? Essazinha é você e eu quero saber por que você estava beijando o meu marido?

Novamente João ameaça falar algo. Mas Helena que responde, rindo ironicamente e olhando para cima brevemente para depois fixar os olhos em Brisa novamente:

- Seu marido? – risada sarcástica – Faça-me o favor! Ele é o meu marido!

(O sistema de som do aeroporto informa que os passageiros do vôo de João devem comparecer à sala de desembarque imediatamente. João sai, de fininho, de cena. Helena e Brisa continuam em cena trocando xingamentos e as duas saem no tapa).

Fim do ato

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Rio da minha paz

Aquele longo rio que vejo
Derramando suavemente em ti
Traz calma, traz sorriso
E uma tristeza por fim
Tristeza de nunca alcançar
A mina desta água
Tristeza de me afogar
Sem mesmo ali navegar
É sim
É não
É talvez
É nuvem
É terra
É dúvida
Por enquanto, seguro tais águas
Firmemente nas minhas mãos
Seda suave, veludo amorenado
Loguíssimo curso amável
Meandros tão delicados
Quanto seu ruído de paz
Me acalama, me lavra'lma
Ao passo que me mata
É pluma
É bigorna
É picada
É o rio da minha paz
Longo riacho moreno que lhe cai sobre os ombros
E enternece meu coração

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

10 notas para pensar

1) Estão querendo acabar com o (a) - nunca sei se é feminino ou masculino - trema. Agora querem que a gente fale cinKenta, linGUiça, etc. Daqui a pouco vão banir o Ç também. E a pergunta que não quer calar: por que não excluem o TU e o VÓS? A bíblia ficaria mais compreensível.

2) Dizem que é errado falar "mais grande", "mais pequeno", "mais maior", "mais menor", etc. Mas ninguém reclama quando, ao referir-se a um deputado, fala-se que "vossa senhoria é mais ladrão do que Fulano." Sinceramente, não vejo a menor diferença com as locuções acima.

3) O Millôr, em seus artigos pra Veja, tem o costume de ironizar os intelectuais do nosso país, chamando-os de "inteleqtuais". Não entendo. Faria mais sentido chamá-los de emtelequitoais.

4) Quem foi o filho-da-mãe que deixou o Bush ganhar no War quando criança? Ele cresceu e agora tá mal acostumado achando que pode ir entrando nos territórios alheios com um simples rolar de dados.

5) Ainda não assisti Tropa de Elite. O emule tá muito lerdo nesses dias.

6) A bossa-nova é patrimônio cultural da cidade do Rio de Janeiro. Merecido. Mas agora eu me pergunto: Sampa é bossa-nova?

7) A porcaria do horário de verão chegou. E nunca consegui entendê-lo. O seu objetivo é a economia de energia, certo? 18h estaria escuro, logo, acenderíamos as luzes no horário normal. Mas no horário de verão, não. Acendemos depois das 19h e olhe lá. Mas, ao acordamos às 6h da manhã, tá escuro do mesmo jeito, ou seja precisamos acender as luzes (no horário de verão o que não ocorria no horário de inverno). Ou seja, a hora em que estamos economizando a luz não adiantam de nada, uma vez que gastamos uma outra hora do dia. Entenderam? Pra quê então, essa porcaria de horário de verão?

8) Depois de ter aula específica de geografia, fiquei sabendo que o México não é só o país dos sombreros, piñatas, tortillas, chilli e RBD. É dos chiapas também.

9) Agora eu posso dizer que o Dunga é treinador de verdade. Depois de ter tratado com grosseria um repórter da ESPN Brasil numa coletiva de imprensa, ele mostrou estar apto para estar no mesmo clubinho de Vanderlei Luxemburgo.

10) Finalmente entendi porquê o Felipão meteu aquele soco no zagueiro da Sérvia. Depois de ter visto um jogo de rúgbi da seleção de Portugal, tive vontade de fazer o mesmo.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Xampu

Putz! É impossível postar todos os dias com essa praga de vestibular segurando nossos calcanhares.
Sinto muito a demora nas atualizações, mas eu prometo que após o dia 09/01/2008 (eu sei que tá meio longe, mas o que eu posso fazer, não é mesmo?) teremos atualizações TODOS os dias, ok?
E aqui vai mais um texto bacana.
Abraços!



Xampu

Era pai de família. Careca, baixinho, gordo. Já devia lá ter seus 50 anos. Casado há 25. Três filhos já todos criados. Bem criados, por sinal.

A mais velha morava há pouco tempo nos EUA. A última notícia que deu pra família fora a de que iria se casar com um americano mais ilegal do que ela. O do meio era formado em Direito. Mas nunca passava nos concursos públicos. “A Internet não deixa” dizia ele quando questionado de seus sucessivos fracassos. O mais novo, repetira, pelo menos, cada série do Ensino Médio uma vez cada. Certo dia (isso aconteceu enquanto a mais velha ainda morava na casa) chegara em casa em tom sóbrio (coisa rara). Fitou o pai fixamente nos olhos e disse sério:

- Engravidei a Rafa.

A reação foi até melhor do que ele esperava: o pai teve um infarto, a mãe uma síncope, o do meio soltou um belo de um palavrão e a mais velha deixou o copo de água cair no chão.

Ia me esquecendo de falar da mãe. Boa mulher, boa mãe. Daquelas que adoram juntar a família na mesa num domingão. Dona-de-casa. Vivia pelos filhos e pelo marido.

Como vê, era uma família normal, que apesar de tantos problemas, eram felizes e unidos. Mas uma bomba caiu em cima daquela casa certa noite. O pai chegou no horário de costume. Trabalhava como revendedor de uma empresa de cosméticos. Beijou a mulher e pediu para que a família reunisse na sala. Silêncio. Então, o senhor careca e baixo se pronunciou:

- Estou mudando pro Tibet.

A mãe e os filhos se entreolharam. E olharam para o pai. Ele sério, em pose quase militar. Começaram a rir:

- Que história é essa, Alfredo?

- Não posso viver mais neste mundo!

A família se preocupou. Ele era brincalhão, sim. Mas péssimo mentiroso. Não havia aquele sorrisinho no canto da boca que sempre aparecia quando ele fingia. Estava sério, impávido, compenetrado.

- Por que isso, Alfredo? – desesperou-se a mulher.

Ele contou que naquele dia foi o lançamento da nova linha de produtos da empresa. E ele ficou encarregado de vender os xampus.

- Xampus, Aurora! Xampus! – ele berrava – Eu não tenho sequer um fio de cabelo, Aurora! Como posso vender xampus?!

Viraria monge. Estava decidido. Lá ele poderia ser careca sem constrangimento. A família poderia ir com ele. Mas que ficassem carecas também!

sábado, 13 de outubro de 2007

Duti

Olá pessoal! Meu nome é Pedro Costa, futuro jornalista e blogueiro frustrado. Já devo ter mais de 5 mil blogs por aí espalhados mas por causa de problemas técnicos nos sites hospedeiros, nunca consigo ir além do 3° post. Vamos ver se aqui, eu ficarei livre dessas falhas tecnológicas.
Ok, sem mais rodeios, explicarei a proposta deste blog. Ele tem a única exclusiva função de divulgar meus textos. Vez ou outra, quando a falta de inspiração vier me assombrar, postarei aqui notícias ou comentário sobre qualquer tema. Estou pensando em reservar um dia especifíco na semana para isso.
Veremos.
Agora, para inaugurar aqui, trago-lhes um texto que acabei de fazer. Espero que gostem!
Abraços!


Duti

O Machado, o Mineirim e eu estávamos sentados na nossa já tradicionalíssima mesa no Bar Budo. Tomávamos cerveja preta e petiscávamos pasteizinhos de angu. A viola caipira dedilhava “Rancho Fundo” e embalava as prosas do Mineirim de Cordisburgo.

O ambiente tinha clima total de descontração e para aumentar tal clima, de cerveja preta e gracejos, o Mineirim resolveu contar o “causo” do Duti.

Para quem não sabe, Duti é amigo velhaco da turma. Um pernambucano filho de holandeses, que era um cabra beberrão arretado, visse? E tinha uma famosa história, que era conhecida por todos no Bar Budo. Aliás, essa é uma característica do Bar Budo. Todos que lá freqüentam sabe da história de todo mundo e por mais que já escutassem todos os dias os mesmos casos, riam como se fosse a primeira vez. Inclusive dos próprios.

Mas vamos ao “causo” do Duti. Ocorreu nos tempos de mocidade dele, quando ele cursava arquitetura em Amsterdã. E já viu, né? Antes de entrar na faculdade já era beberrão, quando entrou lá... Aí que desembestou de vez. Não tinha um dia que ele não passava em um pub pós-aula para lavar a garganta. Mas teve um dia que ele bebeu além da conta. Mas ainda conseguia andar, meio capenga, mas andava.

Chegou em casa e tentou abrir a porta. Mas a porcaria da chave num entrava. Resmungou qualquer palavrão em holandês ou qualquer tipo de língua primitiva dos bárbaros, e começou a chutar a porta. E nada dela abrir. Deu alguns passos para trás e de repente, acelerou uma carreira e a derrubou. Ficou caído no chão por alguns segundos, alevantou-se e ficou encarando um quadro de uma mulher nua na parede da sala. Fitou o quadro por alguns instantes com ar de desconfiado e balbuciou “Olá broto... te conheço de algum lugar?”. E caiu na gargalhada.

Adentrou-se na casa chamando pelo cachorro. E nenhuma resposta do bicho. “Onde foi que esse pulguento se meteu?”, resmungou o pinguço. “Deve ter ido pro porão”, concluiu. Detalhe: a casa não tinha porão. Voltou pra sala, sentou-se no sofá e acomodou-se nele até cair em sono profundo.

- Mas que @!#!$#@%@#$@@!#!@* é essa? – vociferou um homem com cara de poucos amigos.

(*) Palavrão em holandês totalmente impossível de ser reproduzido devido à incompetência do autor.

Duti abriu apenas um olho, riu meia-boca e falou meio enxacoco:

- Senta aí, Galego! Abra uma cervejinha pra gente que to só descansando aqui. – e voltou a dormir.

O homem pegou o Duti pelo orobó, que nem se faz com galinha, e esbravejou:

- Vai embora vagabundo, se não te chamo a polícia! – e largou o bebum, derrubando-o no chão. Duti, já acordado, obviamente, passava a mão no pescoço marcado pelas mãos do cidadão enfurecido lá.

- Que isso, rapaz? Eu to na minha casa! Quem é você? – indagou Duti, sem saber de nada.

- Que casa sua o quê! Presta atenção, rapaz! Você num é o brasileiro que mora no 302 com um cachorro desgraçado que sempre mija nas minhas plantas?

Duti fez que sim com a cabeça.

- Pois então, vagabundo! Aqui é o 301! – gritou o homem, apontando pra porta derrubada no chão com a plaquinha 301.

Duti, envergonhado, mas ainda grogue, saiu e foi pra casa. No dia seguinte pagou o conserto da porta.

- A melhor parte é a do “senta aí Galego!” – ria o Machadão.

- Imagino aquele engrol grave, cambaleante, feito marruás em anhanhonhacanhuva sem estatura de regra, pedindo para que o alemão-rana bebesse cerveja junto com ele! – comentou entre gargalhadas o Mineirim.

Machadão e eu nos entreolhamos. Depois, olhamos pro cordisburguês:

- Vamos embora, Mineirim. Depois desse seu comentário, tenho certeza que você bebeu demais e vai acabar como o Duti. Sou seu vizinho e não to nem um pouco a fim de ter minha porta arrombada!

E levei o Mineirim nas costas depois da agradabilíssima noite, pra variar, no Bar Budo.