terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Eu e o João-de-barro

Fico observando um João-de-barro. Vejo aquele passarinho marrom bicando um pouquinho de lama e alçando vôo até um poste elétrico da rua onde será sua futura moradia. Meus olhos vão acompanhando a viagem da pequena ave. Fiquei uns cinco minutos contemplando àquela cena. Bicava um pedacinho de lama e voava ao poste e depois volvia a buscar o barro e assim por diante. Pacientemente.

Ao relembrar tal cena, concluo: o João-de-barro nasceu para ser engenheiro. Fico com certa inveja. Quisera eu ter nascido pronto para algo. Não, não é um discurso de renúncia ao meu livre-arbítrio! Mas seria legal fazer aquilo que eu soubesse que tenho: uma aptidão, ou melhor, uma tendência a ter aptidão a algo. Seja por genética ou por ter sido “plantada” em mim na infância. O problema é descobri-la.

Nos meus tempos de colégio (e até hoje), sempre odiei matemática, física, números! Nunca compreendi a biologia, nem a química. Gostava (e gosto) de gente. Queria mexer com as pessoas, lidar com elas. O que eu deveria ser, então? Cobrador de ônibus, é claro! Lida com gente o dia inteiro! Mas eu seria um horror como cobrador, viveria errando troco, enfim. Não ia dar certo. Decidi, então, que eu queria mesmo era ajudar as pessoas. “Seja médico”, dizia minha mãe. Qual o quê! Sei nada de biologia e tenho medo de sangue! Não rola! Concluí, que eu queria ser bombeiro e, antes de me acostumar com a idéia, lembrei que bombeiro vê sangue também. Estaca zero de novo. O que fazer? O que aliava mexer e ajudar gente sem precisar ver sangue, saber biologia e fazer conta?

Foi uma pergunta que martelou minha cabeça por muito tempo até achar a resposta. Mas, nesse meio tempo, quis ser jogador de futebol, piloto de fórmula 1 e, até mesmo, mecânico de avião! Nenhuma dessas me animavam muito. Mas, como disse, foi até achar a resposta. O bom leitor pressupõe que a achei. De fato sim, mas não tenho certeza se é a resposta. “O que diabos você achou que alia mexer e ajudar gente?”, você me pergunta. “Ser jornalista.”, eu respondo.

Ser jornalista envolve lidar com as pessoas, seja fazendo entrevistas ou formando (ou encaminhando a formação) da opinião pública ou, somente, trazer a notícia ao conhecimento coletivo. Posso ajudar as pessoas na compreensão e no esclarecimento de assuntos de interesse social. Implica, também, em gostar de escrever, ler, comunicar-se; verbos que sempre foram conjugados na minha vida de forma fácil e prazerosa.

Volto ao predestinado engenheiro João-de-barro, agora com sua casinha pronta e ele lá, todo feliz. Agora, olho para mim mesmo e espero que, mesmo não sendo um jornalista predestinado, eu seja capaz de construir minha vida e ser feliz, que nem aquele passarinho marrom.